13 de jun. de 2018

noturno número 8








o que era róseo fez-se negro 

o que era plúmbeo fez-se amargo 

o que era promessa fez-se pesadelo 

e o tempo de olhos abertos deixou na boca 

o gosto de pianos desafinados quando o frio 

cobriu os ossos e arrepiou os pelos do corpo 

na campa de plumas o olho não fechou 

e tudo o que era passado se fez presente 

no mesmo instante em que o perfume 

apagou todas as lâmpadas e acendeu todas as velas 

o náufrago viajou para a profundeza do abismo 

de onde ele não sabe se voltará um dia 

sem que o plúmbeo amargo da vida tenha desatado 

todos os nós de imensos dias vazios e inúteis 

em mais uma noite de solidão e lua nova 



8.6.2018




(Ilustração: Alyssa Monks)



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