passo tantas vezes em silêncio por esses caminhos
que minha voz se torna rouca quando dela necessito
mas não te iludas com esse meu recolhimento e esse meu jeito
de nada dizer e andar por aí como pálida sombra
o meu cérebro fervilha de desencanto e protesto e sabe
que os tempos são difíceis e o pão é pouco a cada um
sofro e faço do silêncio a minha forma muda de dizer
que o mundo ao redor não tem o espaço de justiça
e as tão desgastadas esperanças de vida mais digna
sou o silêncio dos que não mais têm forças para gritar
sou o silêncio dos que ainda buscam no fundo do ser
a gota fatal da descrença e do ódio para levantar
quem sabe ao último estalar do chicote aquele grito
que estremecerá a mão que fere e fará nascer enfim
a flor lentamente gestada da revolta dos desesperados
13.6.2018
(Ilustração: Robert Fisher - Lyndhurst Eclipse II)
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