inútil sacudir os ombros ou expô-los ao vento e à chuva
que lá está a mancha perene o mofo do tempo
que nada amortece a lembrança o som distante de um piano na noite
o ruído dos passos ao pisar a folha seca do jardim
o banco deserto na praça à luz da lua
o lento gotejar da chuva na cornija
o pio do pássaro no ninho à espera do alimento
o cicio de preces cantadas ao rosário no calor da noite
luzes distantes e sutis de primaveras
e tudo isso nada vale que o som do piano
as esperanças fugidias e o estalido da madeira
os ombros curvados em busca da terra roxa
e o mofo estranho entranhado agora nos seus olhos turvos
24.5.2018
(Ilustração: Zdzisław Beksiński)
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