21 de jun. de 2018

o mofo do tempo









inútil sacudir os ombros ou expô-los ao vento e à chuva

que lá está a mancha perene o mofo do tempo

que nada amortece a lembrança o som distante de um piano na noite

o ruído dos passos ao pisar a folha seca do jardim

o banco deserto na praça à luz da lua

o lento gotejar da chuva na cornija

o pio do pássaro no ninho à espera do alimento

o cicio de preces cantadas ao rosário no calor da noite

luzes distantes e sutis de primaveras

e tudo isso nada vale que o som do piano

as esperanças fugidias e o estalido da madeira

os ombros curvados em busca da terra roxa

e o mofo estranho entranhado agora nos seus olhos turvos



24.5.2018

(Ilustração: Zdzisław Beksiński)


 

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