há uma folha branca e uma caneta
e há uma vontade imensa de escrever
um poema
só não há na ponta da caneta a inspiração
para que esse poema se materialize
em palavras
ou versos que preencham o espaço vazio
do meu peito em busca de um passado
no meio
bem no meio da noite quente de lua nova
quando o silêncio se quebra ao som do jazz
sinto medo
não
não é medo o que sinto
apenas uma leve angústia
de buscar no peito
o anseio que não se descreve
as palavras aos poucos se desenroscam
cipós de florestas tropicais de cidades
desconhecidas
a construir pirâmides ocas no espaço da noite
trêmulas estrelas da ursa maior
que não contemplo
e talvez não contemple jamais
longínquas luzes
de um continente perdido na minha memória
renascido apenas através dos versos sombrios
de um poeta de séculos perdidos nas trevas
do meu desejo por uma luz no fim das sombras
nesse noturno pianíssimo que vibra e me consome
17.12.2018
(Ilustração: Robert Fisher - Starry Night Toward Lake Eyre)
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