10 de fev. de 2019

noturno número 11






há uma folha branca e uma caneta

e há uma vontade imensa de escrever

um poema

só não há na ponta da caneta a inspiração

para que esse poema se materialize

em palavras

ou versos que preencham o espaço vazio

do meu peito em busca de um passado

no meio

bem no meio da noite quente de lua nova

quando o silêncio se quebra ao som do jazz

sinto medo

não

não é medo o que sinto

apenas uma leve angústia

de buscar no peito

o anseio que não se descreve

as palavras aos poucos se desenroscam

cipós de florestas tropicais de cidades

desconhecidas

a construir pirâmides ocas no espaço da noite

trêmulas estrelas da ursa maior

que não contemplo

e talvez não contemple jamais

longínquas luzes

de um continente perdido na minha memória

renascido apenas através dos versos sombrios

de um poeta de séculos perdidos nas trevas

do meu desejo por uma luz no fim das sombras

nesse noturno pianíssimo que vibra e me consome 





17.12.2018

(Ilustração: Robert Fisher  - Starry Night Toward Lake Eyre)




Nenhum comentário:

Postar um comentário