20 de fev. de 2019

querido diário







hoje 21 de janeiro de 2019 amanheci no molho da angústia de sofrimentos inefáveis e inexplicáveis que me conduzem por caminhos estranhos de pensamentos sem sentido e enlouquecidos pensamentos que não queria pensar abelhas zunindo em meu cérebro e o dia que mal amanheceu não alivia os tormentos noturnos de sonhos esquecidos revirados em torno de mim mesmo na semiobscuridade de meu quarto a sombra de passados e futuros a preocupação marcando as rugas de meu rosto a devastação de um tempo cuja leitura não chega ao meu entendimento um tempo de marchas negras e contramarchas vermelhas o sangue no canto do olho a desesperança sem fronteiras os molossos a ladrar para a lua de sangue o sangue sempre ele a morte a acalentar o balanço do berço onde dorme o monstro que se alimenta no seio de chamas de ouro a surgir no horizonte combatentes fichados e arrolados em processos de encantamentos e caldeirões ferventes desde 1922 quando um tal mussolini pregava o socialismo utópico para mudar as mentes e arrebatar multidões o vento que saía de suas ventas e as palavras de sua língua traíam e atraíam multidões enlouquecidas para serem a bucha do seu canhão em campos de batalha o sangue fervente de milhões eu aqui a escrever essas palavras no meu diário nesse dia que não tem sentido nenhum esperando a alvorada de uma cidade do planalto central que um dia o italiano padre dom bosco disse que iria existir naquele paralelo uma incivilização que brota do palácio desenhado por um comunista e tudo faz algum sentido e não tem sentido nenhum porque há fascistas e há a igreja católica e há um comunista e há um povo que não sabe para onde ir o tempo urge e tudo se calcifica em praga em desmonte de morros que os pirilampos invadem para fazer ninhos das fezes do autoritarismo ingênuo não há autoritarismo ingênuo já dizia aquela judia hanah palindrômica arendt em dias de desespero e solidão no meio do caos de amores inconfessados e perseguições confessadas judia ela e seu coração sempre foi um coração valente na terra de ninguém na palestina ou na judeia o deus que sempre cultivou a guerra está de costas e defeca cruelmente em seus seguidores na manhã de um outubro vermelho qualquer quando sem eu menos esperar estou aqui no meu quarto pesando a solidão e penando a desesperança agonizante de um tempo que é hoje e ao mesmo tempo é ontem e esse ontem pode ser escrito de novo como hontem assim sem mais nem menos os ventos não sopram o sol não sai a manhã não chega a noite espreita ainda e eu penso em vão no molho do meu olho a mistura malfadada de insônia e poesia o quanto é triste ser assim no dia 21 de janeiro de 2019




(Ilustração: Odilon Redon - le cyclope)


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