7 de mai. de 2021

tuas asas

 



ondeias teu corpo esguio pelo leito

como se fosses erguer tuas asas e voar

mas não tens asas – amada colhida no gesto perfeito

do meu espanto e do meu esgar



no gozo de ver-te assim entregue à luxúria de meu mais profundo desespero

sigo teus movimentos e busco no fundo dos teus olhos o tempero

- esse maligno tempero que me leva – eu o chumbo do teu riso –

suspenso nas águas paradas do lago como um redivivo narciso

e depois nas nuvens de fogo com que me abrasas

a fugir de mim mesmo como pena arrancada do teu dorso

anjo ou demônio em ti e contigo sobre a terra e sobre o mar

porque embora não tenhas tu mesma as tuas asas

emprestas-mas para que eu possa no teu gozo voar




4.4.2021

(John W. Russell; A Modern Fantasy, 1927)

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