perdidos no céu de chumbo
da mediocridade
marchamos no charco do sangue sujo
sujas as mãos
sujas as mentes
sujo o sexo
inseguros à luz da manhã de maio
no meio do mundo imundo
de pocilgas onde chafurdam generais
surdos ao som dos trovões no meio da tempestade
não há água de chuva ácida que lave
o sopro profundo dos pulmões vazios
sob a noite de pesadelos
são inúteis as canções guerreiras
os ventos que sopram queimam as bochechas
o ar pesado arromba os cérebros
não há na terra uma só trevo
não há nos rios uma só guelra
não há nos oceanos uma só água-viva
matamo-nos ao pé da couve envenenada
por um talo engasgado na garganta do tenor
há distorcidos arpejos de guitarras
mas ninguém tem ouvidos para ouvir
uivam os cães para seus donos
e a lua explode raios de beleza e morte
sai a serpente de sua toca
rastejam humanos em busca da luz
o charco podre come as solas dos pés de chumbo
e os oceanos escoam areias em ampulhetas quebradas
ouve o som
ouve o som dos passos do passado
ouve
ouve o grito que vem do passado
ouve
que o passado e seu grito serão teu último estertor
28.2.2021
(Ilustração: Aroldo Bonzagni)
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