de tuas veias partiram teus versos para ouvidos infames
desejos de livres palavras de mulher
o amor por tempos imemoriais sufocado
agora em sonetos travestido e enredado
na trama de amores no canto de tantas outras antes de ti
sim – não foste a primeira
apenas tiveste a primazia dos ódios tropicais
se pobre a tua vida
de riquezas ornaste tua poesia
gestados os sentimentos todos
do fundo dos teus arrepios – proibidos e incompreendidos
tu – uma mulher entre falos flácidos de falocratas
inúteis
tu – que não te viste nos espelhos de tuas curvas
tu – que te olhaste na retidão de varas e varões não
santificados
para desespero dos impuros
tu – que não te banhaste nas águas sáficas de outros
ardentes beijos
teus mistérios revelados na sombra de um quarto vazio
onde um poeta de tantos tempos depois sonha contigo
numa tarde de outono e de gloriosos pecados
a queimarem minha pele os teus versos ardidos
na certeza de tuas incertas incursões
se difícil a tua vida
de ouros e pedrarias ornaste a poesia
os versos que louvo agora
percorrendo em mim teus mistérios todos
teus mistérios nunca a todos revelados
- entreprometidos mistérios de tuas luas ocultas
na poeira de estrelas de nossos abismos entrelaçados
15.4.2021
(Ilustração: Gilka Machado - foto da internet,
sem indicação de autoria)
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