27 de mai. de 2021

uma tarde com gilka machado


  

de tuas veias partiram teus versos para ouvidos infames

desejos de livres palavras de mulher

o amor por tempos imemoriais sufocado

agora em sonetos travestido e enredado

na trama de amores no canto de tantas outras antes de ti

sim – não foste a primeira

apenas tiveste a primazia dos ódios tropicais

 

se pobre a tua vida

de riquezas ornaste tua poesia

 

gestados os sentimentos todos

do fundo dos teus arrepios – proibidos e incompreendidos

tu – uma mulher entre falos flácidos de falocratas inúteis

tu – que não te viste nos espelhos de tuas curvas

tu – que te olhaste na retidão de varas e varões não santificados

para desespero dos impuros

tu – que não te banhaste nas águas sáficas de outros ardentes beijos

 

teus mistérios revelados na sombra de um quarto vazio

onde um poeta de tantos tempos depois sonha contigo

numa tarde de outono e de gloriosos pecados

a queimarem minha pele os teus versos ardidos

na certeza de tuas incertas incursões

 

se difícil a tua vida

de ouros e pedrarias ornaste a poesia

os versos que louvo agora

percorrendo em mim teus mistérios todos

teus mistérios nunca a todos revelados

- entreprometidos mistérios de tuas luas ocultas

na poeira de estrelas de nossos abismos entrelaçados


 

15.4.2021

(Ilustração: Gilka Machado - foto da internet, 

sem indicação de autoria)



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário