sonhou e desejou tanto o poeta
uma epifaniaque o tornasse um grande esteta
lido e apreciado por toda gente
que um dia
assim de repente
lhe surgiu
como um raio que fulgiu
no meio da noite e da escuridão
a musa da poesia
supreendentemente rota e rasgada
quase nua e mal tratada
bem no meio da pandemia
assustou-se o poeta
com tal visão sem sentido
já que tanto sonhara
já que tanto desejara
uma bela inspiração
uma jovem alegre e de belo porte
que aquela aparição
pareceu-lhe muito mais a morte
do que a esperada poesia
pensou bem por que teria
sido o seu desejo enganado
por tão vil patifaria
e não encontrando solução
pensou e pensou e como era um poeta
um poeta que nunca dizia não
abraçou enfim a musa feia e fedida
nos seus rotos trajes de mendiga
lambeu-lhe até mesmo uma e outra ferida
do seio murcho e da face encardida
ajoelhou-se a seus pés e pediu
que aquela pobre e velha senhora
de musa da poesia travestida
acendesse de novo o seu desejo
mesmo sem qualquer epifania
e que fosse sem nenhum pejo
a partir daquela hora
a sua companheira e a sua alegria
já que se resignava
como sua musa velha e feia sugeria
a ser um poeta de pobre poesia
seu desejo a musa logo atendeu
e partir daquele dia
o pobre poeta muita poesia escreveu
mas nunca ninguém jamais o leu
29.9.2020
(Ilustração: Aleah Chapin)
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