espero teus beijos como a terra seca espera a chuva
na manhã de qualquer primavera cheia de espantos
o desejo bate na vidraça da janela e quebra as asas
se tu não vens para fazer jorrar de novo a seiva
nos meus braços ressequidos
não haverá prímulas e avencas nos meus trópicos
não haverá sementes no meu chão crestado
se os teus beijos não choverem húmus
que alimentem dos meus desejos a espera
e tragam o tempero exato para a minha flor exausta
colorir outra vez de vermelho
o cair da tarde desencantada dos teus mistérios
sou teu deserto a esperar gotas mágicas
ainda que amargas
para o tronco seco ao bico do pica-pau
que se abram asas para o meu desespero voar
para trás dos horizontes
cruzar o arco-íris
e deixar no fundo do lago
os ossos inúteis dos corpos ressequidos
que se dispam de sonhos as tuas asas
e voem no silêncio dos ventos alísios
que chovam os teus beijos na pele arrepiada
a fazer renascer minhas esperanças imateriais
e declarar enfim que meu estio
findará no renascimento das águas do teu rio
25.4.2021
(Ilustração: Jindrich Styrsky - marriage, 1934)
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