14 de dez. de 2021

escolha (poema com pós-escrito inútil)

 






quando eu era jovem eu fui velho

agora que sou velho eu sou jovem

mas o corpo não sincroniza uma idade com a outra

não adianta ser isto ou aquilo

quando o jovem que se vê um velho

não viveu porra nenhuma

não adianta ser isto ou aquilo

quando o velho que se vê jovem

não tem no corpo porra nenhuma de vigor



(o exato sentido disto ou daquilo é ser o que se é sem correr atrás de ventos que não movem moinhos quando os moinhos não estão com suas pás na direção correta)



talvez seja besteira

talvez seja bobeira

pensar uma coisa e sentir outra

ou sentir o que não se é

o sentimento não muda a realidade

nem a realidade matura o sentir



ser apenas o que se é

talvez seja o elixir que está na taça da vida de cada um

e bebê-lo seja a única escolha



o pós-escrito inútil:

derramá-lo (ao elixir) é buscar o espanto

e nem sempre o espanto da vida

consegue trazer vida a um coração machucado




21.11.20121 (São Vicente / SP)

(Ilustração: escultura de Franz Xaver Bergman 
(or Franz Xaver Bergmann) - 1861–1936) 

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