23 de dez. de 2021

estranha ferida

 



quero o silêncio do último canto do grilo

quero o silêncio do desabrochar da pétala de rosa

quero o silêncio do último suspiro

da corda de um violino na última nota do concerto

quero o silêncio do ponto no final de uma trova

quero o silêncio da lua nova

quando eu possa sozinho dentro de mim

exsudar de meus olhos em gotas de alecrim

o desejo de que um dia essa lua e as estrelas

surjam no céu das minhas tardes de espanto

e quando eu pudesse vê-las

através do meu pranto

que essas lágrimas dissessem de cada dia da minha vida

em que não pude mitigar

em que não pude curar

dentro do meu peito esta estranha ferida



2.11.2021

(Ilustração: Oswaldo Guayasamín - prisionero, 1949)



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