meus passos e passeamos ambos pela ponte inconsútil
no ar o cheiro adocicado de sangue
minhas mãos passeiam pela tua pele no movimento inútil
que faz o coração no peito exangue
tuas mãos e arfamos ambos sobre a ponte os gestos trêfegos
do passante improvável aos teus e aos meus desejos
o cheiro de sangue não tem mais o doce perfume
que cabia nas pétalas de teus lábios e nos meus beijos
inconsútil o estranhamento somos o bordado tecido sobre os lençóis
neles refletem teus seios como a lua de loucos arrebóis
dançamos a dança da morte e da vida no meio do estrume
enquanto gemes os meus gemidos e calas os meus gritos
somos ambos passantes pela ponte inconsútil
equilibristas que a vida julgou e condenou como malditos
a caminhar entre as duas margens do orgasmo fútil
que liga as duas pontas do arco-íris dois seres aflitos
a buscar nos meandros de antigas palafitas
o equilíbrio das marés e do passo do bêbado sobre a ponte
sem esperança de encontrar na fímbria de qualquer horizonte
o fim de meus verdadeiros sofrimentos e de tuas falsas desditas
12.4.2022
(Ilustração: Javier Arizabalo García)
Nenhum comentário:
Postar um comentário