de meu pai eu me livrei muito cedo
porque antes ele de mim se livrara
criança – nunca precisei de pai
jovem – menos ainda
adulto – figura esquecida no tempo
soube dele um dia quando
me disseram que morrera
- o fantasma anônimo ganhou nome
na pedra um de cemitério antigo nas montanhas de minas
perdido para mim
que nunca deixei nem deixarei na areia do caminho
a marca de meus pés
para colocar sobre sua tumba uma flor sequer
livrei-me de meu pai pela segunda vez
naquele anúncio pelo telefone
e hoje – um velho sem eira nem beira
às vezes choro uma lágrima seca
por um pai que nunca tive
18.1.2021
(Ilustração: René Magritte)
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