1 de set. de 2022

para meu pai – 2

 


de meu pai eu me livrei muito cedo

porque antes ele de mim se livrara



criança – nunca precisei de pai

jovem – menos ainda

adulto – figura esquecida no tempo



soube dele um dia quando

me disseram que morrera

- o fantasma anônimo ganhou nome

na pedra um de cemitério antigo nas montanhas de minas

perdido para mim

que nunca deixei nem deixarei na areia do caminho

a marca de meus pés

para colocar sobre sua tumba uma flor sequer



livrei-me de meu pai pela segunda vez

naquele anúncio pelo telefone

e hoje – um velho sem eira nem beira

às vezes choro uma lágrima seca

por um pai que nunca tive



18.1.2021

(Ilustração: René Magritte)


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