há um espanto engasgado na garganta dos mortos
enquanto as pás dos coveiros ressoam malícias inconfessáveis
no alto dos prédios a lua cheia esplende nos olhos do homicida
para o assassino talvez haja esperança a brotar do fundo das covas
quando os urubus interrompem seu voo suicida
para lamber com línguas ásperas os ossos esbranquiçados
as hienas gargalham de fome à luz da lua
as folhas das árvores cobrem de cobre o chão ensanguentado
e os santos do pau oco assombram o mundo mostrando as vísceras
de onde escorrem ouro em diarreias invertidas
a boca dos políticos cospe a merda dos defuntos
no bailado das cadeiras de ministros encapuzados
a pedir mais frutos pendurados nas pontas dos fuzis
o baile das ilhas fiscais tem valsas para todas as tribos
enquanto as torres do poder apodrecem por dentro
o vírus passeia
pelas praias e areias das costas quentes
do longo litoral do país que ensombreceu seu futuro
o vírus passeia
pela boca sem dentes de favelados executados pela polícia
o vírus passeia
pela boca emoldurada de risadas etéreas do filho do banqueiro
o anúncio de capim fresco para o gado
transformou a noite de lua cheia
na luz funérea de um circo evangélico
a pátria jaz sob a tumba de milhares de cadáveres
gemendo o passado verde e sonhando um futuro azul
mas a foice bateu o martelo
- para que haja uma semente no fundo da terra
que se enforquem todos os filhos nas tripas do pai
7.5.2021
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