toco as areias ferventes dos teus seios
escorrego pelas tuas escarpas abissais
cheiro teu umbigo como adão assustado
sugo teus sumos encachoeirados
o teu ventre liso – rósea flor dos ventos –
é a estrela que guia os perdidos caminheiros
para o abismo de mares pré-cabralinos
no encontro de águas e algas e liquens
prenunciam-se erupções marinhas e maremotos
sou teu visitante sem jaça que antes de naufragar
lança-se a ti sem medo de teus mares bravios
esses mares que já engolfaram os navios
de tantos piratas saídos de versos de camões
sei no entanto os teus caminhos e tuas marés
e neles – nos caminhos e nos riscos – afundo os pés
aceito as regras do jogo que tu me propões
- serei para ti o intrépido navegante grego
a beijar todos os dias a flor do teu desassossego
20.3.2021
(Ilustração: Catherine Abel)