quando se proibiram abraços e beijos
não por motivo de uma vontade qualquer
mas por algo invisível e mortal
engolimos a seco os nossos beijos
e guardamo-los todos em gavetas
jamais planejadas ou desejadas
abstraímos em nossos próprios braços
os abraços congelados e enregelados
em geleiras desconhecidas
até mesmo de nossas possibilidades de alegria
estão lá os nossos beijos e abraços
num canto obscuro de nossos desejos
documentos de um arquivo morto
de nuvens que esperam
um sopro de vento para choverem de novo
na verdade o que esperam é mesmo
um vendaval de rios aéreos
capaz de alagar as ruas e as cidades
romper as muralhas
fertilizar as planícies
e quando o sol do estio esquentar o peito
acender de novo as fogueiras
soltar rojões
iluminar os espaços
para os desenlaçados beijos e abraços
preencherem de novo a madrugada
e como lírios do brejo renascerem
para a grande festa da primavera adiada
19.4.2021
(Ilustração: Georg Pauli)
Nenhum comentário:
Postar um comentário