uma vontade imensa de não fazer absolutamente nada
tampouco escrever este poema cheio de insegurança e má vontade
transpor do meu peito para o vento uma saudade espalhada
deitar talvez numa rede e sonhar com o campo olhando a cidade
permitir que se amontoe em minha memória opaca
a poeira do tempo e o mofo de toda uma vida sem sentido
porque o mundo todo se transformou numa grande cloaca
neste momento em que nem viver comigo tem valido
e se há música no ar limpo da tarde que lentamente se esvai
dentro do meu peito o coração bate cada vez mais lento
como a garoa que no fim do dia molha meus olhos quando cai
aguçando dentro de mim a preguiça de viver da qual sou detento
20. 10. 2022
(Ilustração: Marc Chagall)
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