3 de jan. de 2023

preguiça de viver





uma vontade imensa de não fazer absolutamente nada

tampouco escrever este poema cheio de insegurança e má vontade

transpor do meu peito para o vento uma saudade espalhada

deitar talvez numa rede e sonhar com o campo olhando a cidade



permitir que se amontoe em minha memória opaca

a poeira do tempo e o mofo de toda uma vida sem sentido

porque o mundo todo se transformou numa grande cloaca

neste momento em que nem viver comigo tem valido



e se há música no ar limpo da tarde que lentamente se esvai

dentro do meu peito o coração bate cada vez mais lento

como a garoa que no fim do dia molha meus olhos quando cai

aguçando dentro de mim a preguiça de viver da qual sou detento





20. 10. 2022

(Ilustração: Marc Chagall)

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