30 de jan. de 2023

quatro estações do amor – verão

 



toco as areias ferventes dos teus seios

escorrego pelas tuas escarpas abissais

cheiro teu umbigo como adão assustado

sugo teus sumos encachoeirados

o teu ventre liso – rósea flor dos ventos –

é a estrela que guia os perdidos caminheiros

para o abismo de mares pré-cabralinos

no encontro de águas e algas e liquens

prenunciam-se erupções marinhas e maremotos

sou teu visitante sem jaça que antes de naufragar

lança-se a ti sem medo de teus mares bravios

esses mares que já engolfaram os navios

de tantos piratas saídos de versos de camões

sei no entanto os teus caminhos e tuas marés

e neles – nos caminhos e nos riscos – afundo os pés

aceito as regras do jogo que tu me propões

- serei para ti o intrépido navegante grego

a beijar todos os dias a flor do teu desassossego



20.3.2021

(Ilustração: Catherine Abel)

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