10 de mai. de 2023

solitária mente

  




cabisbaixo vou pisando os meus sonhos

pelas ruas de meu bairro

conversando com as minhas musas – ainda existem musas?

alinhavando nos meus passos os sonhos mal costurados

de passados das penumbras renascidos

solitária a minha mente vaga

elaborando versos que não escreverei jamais

beijando lábios que não beijarei jamais

abraçando abraços que não terei jamais







o tempo nos passos não conta o rosário de orações

que meu pensamento ateu não mais remói

porque as igrejas barrocas do sol a pino

são sombras rudes de seres tão solitários como eu

enterrados vivos nas ruas desta grande cidade



piso e repiso lembranças do meu eu de um tempo morto

quando as pedras da calçada queimavam meus pés

numa cidade perdida no tempo da memória

e o tempo da memória é um tempo inconsútil

roto embora pelas pedras do caminho



sou agora apenas eu e minhas sombras

sou agora apenas um poeta que não crê mais em nada

sou agora apenas um poeta que caminha e pensa

sou agora apenas um poeta que ainda caminha e sonha

sonha solitário

a mente perdida nas montanhas de outrora





22.10.2021

(Ilustração: Marianne von Werefkin - 1860–1938)



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