cabisbaixo vou pisando os meus sonhos
pelas ruas de meu bairro
conversando com as minhas musas – ainda existem musas?
alinhavando nos meus passos os sonhos mal costurados
de passados das penumbras renascidos
solitária a minha mente vaga
elaborando versos que não escreverei jamais
beijando lábios que não beijarei jamais
abraçando abraços que não terei jamais
só
o tempo nos passos não conta o rosário de orações
que meu pensamento ateu não mais remói
porque as igrejas barrocas do sol a pino
são sombras rudes de seres tão solitários como eu
enterrados vivos nas ruas desta grande cidade
piso e repiso lembranças do meu eu de um tempo morto
quando as pedras da calçada queimavam meus pés
numa cidade perdida no tempo da memória
e o tempo da memória é um tempo inconsútil
roto embora pelas pedras do caminho
sou agora apenas eu e minhas sombras
sou agora apenas um poeta que não crê mais em nada
sou agora apenas um poeta que caminha e pensa
sou agora apenas um poeta que ainda caminha e sonha
sonha solitário
a mente perdida nas montanhas de outrora
22.10.2021
(Ilustração: Marianne von Werefkin - 1860–1938)
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