no angu que borbulhava
na panela de ferro redonda
sobre a trempe do fogão a lenha
havia o calor mais quente
do sorriso de minha mãe
e quando no prato
o creme amarelo se misturava
ao branco do arroz
e ao moreno do feijão
a pequena coxa do frango
tecia na minha boca urdumes de beijos
que outrora num tempo sonhado
seriam de novo o alimento da vida
mas o crepitar da madeira
cozinhando o fubá de moinho d’água
deixou para sempre na minha memória
lembranças de mãe
que às horas amargas adoça como a sombra
de um beijo nos lábios da mulher amada
e essa lembrança me consome dia e noite
como o suspiro de horas mortas
que arrepia o desejo
e marca no meu rosto
a tatuagem de uma saudade
de angu cozido na trempe de um velho fogão a lenha
20.6.2021
(Ilustração: minha mãe e eu aos 17 anos)
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