despejei de minha memória até a última gota
todo o sumo amargo de seu desprezo
restou dentro de mim o vazio de sua sombra
no tanto de angústia acumulada na poeira do tempo
(e a gasta metáfora me satisfaz por me lembrar
que você é poeira do meu tempo de menino)
e essa angústia – mesmo pó – ocupava em minha mente
um espaço não desejado que nem eu mesmo pensei que existia
agora não sei mais se desejei um dia
que você me visse e me quisesse como filho
ou me deixasse como testamento
um gesto – um olhar – um toque – um deus te abençoe
aquilo que da pele e da mente nunca sai
- agora – agora o tempo não há mais e não há mais
qualquer possibilidade de arrependimento
- do seu arrependimento – pai
28.7.2021
(Ilustração: Paul Bond - Sins of the father)
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