houve um tempo em que eu achava
que a felicidade fosse
a sobremesa de arroz-doce
com bastante canela em pó polvilhada
feita por minha mãe no fogão a lenha
e eu andava pelos matos e pelas ruas tortas
sempre descalço a me enfiar em qualquer brenha
atrás de passarinhos e frutas nas hortas
às vezes proibidas e muitas vezes inacessíveis
e isso era o que me fazia feliz
sem pensar que eram inatingíveis
os sonhos que sonhava acordado
a tal felicidade estava ali no colchão de palha
estava ali no jogo de futebol bem pegado
na pipa que mais alto voava e na malha
do tempo que se perdia esperando o vento
e foi o tempo perdido pensando na felicidade
que me deu a certeza de que tudo o que tento
em minha busca insana é na verdade
o encontro de mim comigo mesmo
no final de um poema escrito a esmo
onde não há nada além do que minha mendicidade
14.12.2022
(Ilustração: Edward Burne Jones - King Cophetua and the Beggar Maid)
VOCÊ PODE OUVIR ESTE POEMA, NA VOZ DO AUTOR, ISAIAS EDSON SIDNEY, NESTES ENDEREÇOS:
- NO YOUTUBE:
- NO PODCAST:
Nenhum comentário:
Postar um comentário