releio meus poemas antigos
pejados muitos deles de erotismo
encontro em seus versos abrigos
para meu atual pessimismo
penso em como era feliz e sabia que o era
ainda que percalços houvera
mas tinha no seu corpo o porto seguro
a abrigar meu passado e meu futuro
vazio hoje me encontro – vazio de mim
vazio de ti e sem qualquer esperança
de despejar algum dia esse vazio enfim
numa taça de desejo e de bonança
abandonado aos humores de minha má sorte
e pelos humores que não mais pulsam dentro de mim
esse desalento me faz pensar na morte
ainda que minha vida esteja longe do fim
sou – amada de tantos prazeres agora impossíveis –
o náufrago em mim mesmo no deserto da falta de desejo
se meus enleios por teu corpo pareciam incoercíveis
mortos estão hoje sem esperança de qualquer lampejo
27.6.2023
(Ilustração: Maria Bashkirtseva - autumn)
Nenhum comentário:
Postar um comentário