26 de ago. de 2024

nostalgia

 





releio meus poemas antigos

pejados muitos deles de erotismo

encontro em seus versos abrigos

para meu atual pessimismo



penso em como era feliz e sabia que o era

ainda que percalços houvera

mas tinha no seu corpo o porto seguro

a abrigar meu passado e meu futuro



vazio hoje me encontro – vazio de mim

vazio de ti e sem qualquer esperança

de despejar algum dia esse vazio enfim

numa taça de desejo e de bonança



abandonado aos humores de minha má sorte

e pelos humores que não mais pulsam dentro de mim

esse desalento me faz pensar na morte

ainda que minha vida esteja longe do fim



sou – amada de tantos prazeres agora impossíveis –

o náufrago em mim mesmo no deserto da falta de desejo

se meus enleios por teu corpo pareciam incoercíveis

mortos estão hoje sem esperança de qualquer lampejo





27.6.2023

(Ilustração: Maria Bashkirtseva - autumn)

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