Não era ainda o tempo da solidão
Quando caminhei pela tarde byroniana
À margem do Tamisa
Com todos os poetas Fernando Pessoa
No século dezesseis
Em meio ao fog da lua mal surgida
O fantasma de assassinos em série
Cheirava o ar procurando carne fresca
Não era ainda o tempo da solidão
E os poetas profetizavam spleens
Tocando de leve com seus pés de nuvem
As pedras roladas da margem do rio
Não era ainda o tempo da solidão
E a marcha dos pés descalços dos poetas
Multiplicava-se em ventos e velas
Sonhando felizes pela vastidão dos mares
Flanavam e falavam os poetas
Que havia mundos desconhecidos
No além-mar
Onde dormiam dragões de olhos esverdeados
E do poço profundo da ambição
Jorravam as águas de março que levavam na pororoca
De rios de sangue
Os encantos e desencantos da funda floresta tropical
Não era ainda o tempo da solidão
E a tarde londrina declinava sob pontes podres
A luz da lua flutuava agora sobre as águas
Onde boiaram as vísceras dos poetas mortos
E mortas estavam todas as esperanças
Devoradas pela fome dos deuses
Para iluminar a noite fria da faca do assassino
Não se acendia nenhuma lâmpada de Argand
- Era apenas uma noite byroniana sem qualquer amanhã
Pois não era ainda o tempo da solidão
2.6.2023
(Ilustração: Johannes Jelgershuis, em 1820: Livraria Pieter Meijer Warnars
em Vijgendam Amsterdã iluminda por uma lâmpada de Argand)
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