2 de ago. de 2024

musas mortas

 





se nem sempre pulsa em meu peito

a inspiração

eu me pergunto – por onde anda

a deusa despida de meus versos



despojo-me de mim ante seus devaneios

a buscar na plenitude do universo

o canto orfeônico das estrelas mortas



sob a alva manhã de primavera

somente o canto dos pássaros

no espanto do fruto maduro

faz renascer o esplendor

de me recompor em estranhos poemas

para que a vida – que pulsa em minhas veias –

se reanime em sangue e suor e lágrimas

todo eu em mim mesmo desfeito em líquidos

no caldo primal de universos nascentes



no peito o coração que bate calmo

sustém o susto de continuar vivo

e eu sou – em sumos e células –

o poeta que regurgita

em versos de palavras tortas

as dores todas do mundo

e choro dentro mim

todas as minhas musas mortas



29.11.2022

(Ilustração: Juan Medina)

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