se nem sempre pulsa em meu peito
a inspiração
eu me pergunto – por onde anda
a deusa despida de meus versos
despojo-me de mim ante seus devaneios
a buscar na plenitude do universo
o canto orfeônico das estrelas mortas
sob a alva manhã de primavera
somente o canto dos pássaros
no espanto do fruto maduro
faz renascer o esplendor
de me recompor em estranhos poemas
para que a vida – que pulsa em minhas veias –
se reanime em sangue e suor e lágrimas
todo eu em mim mesmo desfeito em líquidos
no caldo primal de universos nascentes
no peito o coração que bate calmo
sustém o susto de continuar vivo
e eu sou – em sumos e células –
o poeta que regurgita
em versos de palavras tortas
as dores todas do mundo
e choro dentro mim
todas as minhas musas mortas
29.11.2022
(Ilustração: Juan Medina)
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