Uma caverna se esconde
sob os bigodes de Nietzsche:
nela cabem destinos,
nela cabem desdouros.
Um sonho também ali se esconde,
sob os bigodes de Nietzsche:
sorri, sozinho, como um louco
mas sonha sonhos de homens livres.
Não há na caverna de Nietzsche,
ali escondida sob os bigodes,
nem mistérios de Platão
que, coitado, na sua idiotia
expulsou toda a poesia
que podia haver no mundo;
nem há também nesta caverna
as socráticas falsidades,
nem deuses de fachada,
nem cristianismos rastejadores
ou quaisquer crenças de vento e dor,
porque, da caverna sob os bigodes,
um trovão de liberdade
levou para o alto o ser humano,
como um vôo de águia em céu de abril.
Dos bigodes de Nietzsche
à caverna que se desenha embaixo,
limpa o vento todo o podre
de fraquezas ancestrais
que não podem ficar guardadas
por mais tempo dentro do homem:
nessa caverna, não se matam deuses,
que estão mortos desde sempre,
mas destrói seus altares
todo o vento que sai dali.
Universos para além do homem
cria o sábio na montanha:
palavras em dardos transformadas,
dali de dentro jorradas,
não palavras melindradas
de um sábio louco a ditar
à irmã mais idiota
um mar de símbolos que ela comeu
e aos pés de Hitler devolveu
em diarréia colossal:
os pêlos do bigode pensador
eram muito mais indigestos
que os pêlos do bigode ditador.
Dali bem de dentro,
da caverna que se esconde
sob os duros pêlos dos bigodes
(tão plurais, tão magistrais)
nova aurora (ou um novo espanto)
fez o homem mais completo,
destronou o padre eterno,
e fez nascer um novo canto;
e esse homem renovado
constrói em cada passo
os mundos que hoje enlaço
e envio via Internet
a cada canto e a cada mente
que celebre, enfim, o novo tempo
do homem livre como o vento
que sai como um lampejo
da caverna que troveja
sob os bigodes de Nietzsche.
13.9.2004
31 de dez. de 2008
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