(Félicien Rops)
Preso ao madeiro rústico,
o deus não chora
mas também não ri.
Não pode haver mais que a sisudez
nessa hora solene.
E o deus que sofre deve manter
a tez serena, os olhos firmes
e a boca apenas entreaberta
sem espanto e sem impropérios.
A hora é esta e sob o madeiro
soldados deviam atirar-se sobre os despojos
e jogar dados e soltar palavrões.
Mas não há nada disso.
No altar barroco, apenas seu corpo em sangue
implode a vista entre ouros e pratas.
E o deus, em seu ricto de dor, empresta
à catedral um ar soturno. Seus fiéis
vivem vidas em campos e cidades,
alheios aos olhos mendigos do deus do madeiro.
Ao deus, então, só resta
o olhar vazio dentro das órbitas mal desenhadas
e o doce desencanto de nada poder fazer
pela humanidade.
3.4.2004
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