ligo o computador e abro uma página do word
e tento escrever um poema
não há tesão nenhum em meu tentar
apenas murchas palavras num computador
apenas murchos pensares em letras minúsculas
o som suave das teclas apenas persiste
o sonho que em mim não mais existe
vejo a praça, a praça imensa de minha infância
o coreto redondo, a tipuana em flor
são lugares comuns como o porto aonde chegam
navios fantasmas em pleno luar
o bater das teclas no computador
diminui pouco a pouco a minha dor
enquanto analiso se permito no poema
a rima pobre surgida por acaso
mas é nessa rima que embarco
sofrendo a esperança que ali não há
naquela praça imensa morreram um dia
a criança e o jovem que no meu sonho espreitam
não posso baixar a guarda de meus pensamentos
que lá vêm os dois a me fazer chorar
inúteis versos na memória de sonho de bits e bytes
de meu mais inútil ainda computador
o som do teclado abafa um pouco o burburinho
de uma praça distante da cidade perdida
não quero voltar ali, não quero encontrar
aqueles que espreitam atrás do caramanchão
para apontar o dedo acusador para mim
sou o covarde que matou um dia o sonho
de nunca mais pensar que seria o que sou
então que se salve o poema lá dentro
de minha memória de computador
para que eu não chore, afinal,
uma lágrima apenas de arrependimento
num poema que tentei um dia
escrever inutilmente num novo documento do word
são paulo, 21.3.2005
20 de jan. de 2009
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