6 de jan. de 2009

quando se crucifica um profeta



(Caravaggio - Judith Beheading Holofernes)







Há deuses mortos no panteão da história.

Há deuses podres nos portões da glória.

Há deuses inúteis nos altares da memória.

E há profetas presos à solidão das palavras.


O profeta não vê o futuro: vê a si mesmo vendo o futuro.

Como um deus morto, tenta recriar a vida.

Como um deus podre, tenta afastar as moscas.

Como um deus inútil, afaga o tédio com olhar aflito.


Não se deve olhar o profeta com consternação.

Não se deve ver o profeta com gritos de horror.

Não se deve enxergar no profeta o louco que ele imagina ser.

Um profeta é o enxergão podre do lixo do futuro

E nada mais.


Assim, nem é preciso que se crucifique um profeta:

Basta que se lhe dêem as próprias palavras

Com que ele um dia sujou o panteão da história.





quarta-feira, 7 de maio de 2003

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