16 de jan. de 2009

PAZ

- Amigos? - Não!
– Brigamos? – Sim.
- Por quê?
– Não o sabes? – Assim?
- Não o sei eu, também. Então, que
queres? – As pazes... – Sim, sim, as pazes...
- Amigo? – Sim. – Para sempre?
- Sim... até as próximas pazes... amigos.

Assim no coração da criança
a paz se implanta. Já adulto,
não se encanta, no entanto, de esperança
e o homem perde, inculto,
o foguete para a história.

Não mais amigos,
religiosos!
Não mais amigos,
políticos!
Não mais amigos,
cidadãos!
E como religiosos, políticos ou cidadãos,
mil detalhes a acertar,
mil palavras a atrapalhar,
mil fronteiras a separar.

Paz?
Ah! A minha paz, sim: assim,
sob o punho, a minha idéia melhor que a sua!
Paz?
Ah! Sim, fique sob o meu peso
o peso da sua inexistência.
Paz?
Sim, claro, não mais que minha
a sua ideologia vá pentear macacos.

E assim, de mão em mão,
de pedra em pedra,
um muro, uma vala, um livro de deus,
tudo a todos distancia.
E a paz, coitada, esconde o rosto
ao passear entre os homens,
como a perseguida de todas as gentes.

O gesto inútil de conquistá-la
morre, enfim, no pano verde
de todos os jogos do homem:
história apenas para boi dormir,
enquanto, no entanto, cada criança
sonha e morre em campos de batalha.

9.4.2004

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