12 de jan. de 2009

QUANDO SE MANDA UM CONDE TOMAR NO CU

Tua dignidade, onde está, meu senhor, onde?
No cu do conde,
onde teu avô se esconde?.

Conde, condessa,
barão, baronesa,
príncipe, princesa,
tudo
título de nobreza

dado por quem?
hem? hem? por quem?
por um deus cagão
vestido de roupão
de seda?
ou por um deus pregado
e coroado
de espinho,
sem pena de passarinho,
num triste madeiro?

senhor conde, senhora condessa,
sois, mesmo, herdeiros
de que sangue mais ameno
que azul
de metileno?
o que tem nas veias o barão?
licor de alcatrão?
o que tem na cabeça
essa nobreza?
chifres de ouro?
e o conde, e o cu do conde?
tem menos pregas o cu do conde?

ah! essa nobreza que se esconde,
se esconde aonde?
no porão cheio de ratos
ou dentro de lava-jatos
de gasolina azul?

quando se come um conde,
cru ou assado,
com o dedo cruzado
em talheres de ouro,
pode haver maior desdouro
que não lhe respeitar as ventas?

que conde, que nada,
apenas rapadura maltratada
de heranças imbecis;
carne nobre é carne de boi,
dependurada
em ganchos de ouro no açougue
sem glória,
sem história,
de tempos servis;

teu preço em ouro, senhor conde,
onde se esconde, senhor conde,
no teu cu de conde
ou no teu vil porão de grandes castelos?

tua língua oculta, teu semblante vazio,
senhor conde, não cabem em chinelos
do teu desvario:
me diz, senhor conde, vergonha não há
em comer mortadela e arrotar vatapá?
em vestir esses trapos de sujas bandeiras
como se fossem reles trepadeiras
de unhas-de-gato?
brincando de rato, de chato,
coroas de lata,
falsos festins, luas de nada,
nem ouro nem lata.
nem punhal de prata,
teu anel de pedra-pome, onde
seu velho conde? onde?

na campina, um corcel;
no castelo, o bordel;
aqui, seu conde, aqui, ó,
cagando teu ouro,
teu tesouro,
não estou assim tão só:
há, para cada um só conde,
milhares e milhões de bocas
todas loucas, muito loucas,
para te comer, senhor conde,
e milhares de paus e pedras
para te foder, senhor conde,
e tu me perguntas onde?
ora, senhor conde, se me permites
(sim, tu concordas com tudo,
em teus trajes de veludo)
mando-te já, com espinho de mandacaru,
tomar bem no olho do conde,
bem no olho do teu cu.


15.12.2005

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