10 de mai. de 2015

meu olho



(Odilon Redon)





meu olho é meu inimigo

e preciso ficar de olho nele

mas o olho que vigia 

é o mesmo olho vigiado



por isso já não sei

se minha mente ainda confia

que esteja tudo concertado

entre os dois que são um só



que vire e revire o globo

ocular, que vire e se revire sem dó,

não quero que faça de bobo

o olho vigiado ao olho que vigia

ainda que ambos sejam um só



se fica torto o olho vigiado

que fique torto o olho que vigia

só não quero ser eu o logrado

a não ver em pleno dia



o que nunca vejo de madrugada

e cego como morcego

perca a paciência e o sossego

levando tombos pela estrada



que vigie o olho ao olho

que ao olho o outro olho confie

não fique eu assim zarolho

tropeçando em cada pedra



sei que cada olho que nega

enxergar menos que o outro

esconde em cada prega

a doença que me cega



então que o olho vigiado

seja cúmplice do que vigia

e também vigie por seu lado

dia e noite e noite e dia




24.4.2015


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