(Minha mãe, eu e meus filhos)
(Para minha tia Ceci
e para todas as outras mães
que eu tive
e que também me deixaram...)
e para todas as outras mães
que eu tive
e que também me deixaram...)
Quando minha mãe morreu, quase não chorei.
Não sei bem nem o dia em que minha mãe morreu.
Provavelmente, em janeiro, num dia qualquer de janeiro. Ano? Não sei. Não me
lembro.
Sim, não chorei quando minha mãe morreu, nem guardei
a data de sua morte.
Para que iria chorar no dia da morte de minha mãe?
Para que vou guardar o dia de sua morte? Para levar flores a seu túmulo e
chorar um pouco? Para quê. Sim, para quê?
Não chorei no dia em que minha mãe morreu, porque
sabia que iria ter todos os dias do resto da minha vida para chorar por ela. E
faço isso, sim, um pouco, só um pouco, à noite, no silêncio da madrugada, ou no
meio do trânsito, quando fecha um farol ou vejo alguém que, por uma dessas
armadilhas da visão, pode se parecer com ela. Quando frito na gordura bem
quente um torresminho, que ela fazia tão bem.
Por isso, não chorei quando minha mãe morreu. Ou
chorei muito pouco.
Porque há lágrimas que nos acompanham pela vida
toda, mesmo que nossos olhos estejam secos, mesmo que nosso sentimento pareça
arrefecido. Porque há lágrimas que somente nós podemos sentir, ao rolar,
enxutas, de nossos olhos: não molham o rosto, mas molham nosso pensamento e
nossa memória. Que não nos deixam esquecer jamais.
Não sei o dia em que minha mãe morreu.
Por que devo lembrar uma data, apenas, se me lembro
dela todos os dias de minha vida? Se todos os dias minha mãe morre e renasce em
meu pensamento? Não preciso de uma data para lembrar que ela me deixou. Apenas
preciso saber, todos os dias de minha vida, que ela me deixou. Assim como vou
deixar os meus filhos um dia. Assim como todas as pessoas que amamos nos deixam
um dia.
Não há fatalismo na morte.
Não há tristeza na morte.
Não há desdouro em morrer. Há apenas, na morte de
um ente querido, o vazio que nos acompanhará até o dia em que também seremos o
vazio na mente e na vida dos que nos sobreviverem.
Por isso, não se deve chorar, quando morre alguém
que amamos. Deve-se, apenas, deixar que o silêncio acompanhe o ato, porque
teremos todos os dias do resto de nossas vidas para chorar a lágrima mais
cruel: a saudade.
4.10.2006
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