2 de jan. de 2016

o baile






como um tango bem dançado

como um samba bem ritmado

como um bolero bem sincopado



senhoras e senhores

a dança da vida começou

escolham seus pares

escolham seus ritmos



valsa ou rock and roll

a orquestra há muito está no palco

e a vida rola pelo salão



baião ou xaxado

jazz ou mazurca

cada um escolhe sua música

e dança conforme toca

a grande orquestra do universo



não importa se dança sozinho

não importa se dança em quadrilha

não importa se dança de rosto colado

o baile não para e cada um

baila conforme o bater

de seu próprio coração





dancemos todos

amigos e inimigos

loucos de hospício

padres de sacristia

mendigos mal vestidos

princesas e atletas

políticos com pescadores

homem com homem

mulher com mulher

não importa o que há

debaixo de cada pano

é gente com gente

negros de pele luzidia

brancos da cor da neve

morenos e pardos

amarelos e corcundas

cientistas com surfistas

índios e musicistas

no baile dançam até

as rodas de uma cadeira

abraçam-se braços partidos

olham-se olhos que não veem

beijam-se bocas que não cantam

divertem-se até mesmo quem

sente só o pulsar o tambor

encontram-se os improváveis

os malditos e os heróis

quem nada tem para dizer

e boquirrotos de plantão

não há raças não há povos

não há tortos nem direitos

no grande baile da vida



como um tango sem pudor

como um samba requebrado

como um bolero recatado



senhores e senhoras

a orquestra não pode parar

e quem não dançar

a vida não viverá




9.12.2015
225.9.2017


(Ilustração: Auguste Renoir - le bal moulin galette)



(Ouça este poema na voz do autor acessando o podcast indicado em cima ao lado)









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