como um tango bem dançado
como um samba bem ritmado
como um bolero bem sincopado
senhoras e senhores
a dança da vida começou
escolham seus pares
escolham seus ritmos
valsa ou rock and roll
a orquestra há muito está no palco
e a vida rola pelo salão
baião ou xaxado
jazz ou mazurca
cada um escolhe sua música
e dança conforme toca
a grande orquestra do universo
não importa se dança sozinho
não importa se dança em quadrilha
não importa se dança de rosto colado
o baile não para e cada um
baila conforme o bater
de seu próprio coração
dancemos todos
amigos e inimigos
loucos de hospício
padres de sacristia
mendigos mal vestidos
princesas e atletas
políticos com pescadores
homem com homem
mulher com mulher
não importa o que há
debaixo de cada pano
é gente com gente
negros de pele luzidia
brancos da cor da neve
morenos e pardos
amarelos e corcundas
cientistas com surfistas
índios e musicistas
no baile dançam até
as rodas de uma cadeira
abraçam-se braços partidos
olham-se olhos que não veem
beijam-se bocas que não cantam
divertem-se até mesmo quem
sente só o pulsar o tambor
encontram-se os improváveis
os malditos e os heróis
quem nada tem para dizer
e boquirrotos de plantão
não há raças não há povos
não há tortos nem direitos
no grande baile da vida
como um tango sem pudor
como um samba requebrado
como um bolero recatado
senhores e senhoras
a orquestra não pode parar
e quem não dançar
a vida não viverá
9.12.2015
225.9.2017
(Ilustração: Auguste Renoir - le bal moulin galette)
(Ouça este poema na voz do autor acessando o podcast indicado em cima ao lado)
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