12 de jan. de 2016

O fim dos deuses




(Zdzisław Beksiński)




Inventaram os homens o inferno


para dele trazerem os demônios da intolerância.


Vestidos em togas negras, com capuzes


de gelo, os novos avatares do ódio


chamam-se pastores, denominam-se papas,


descrevem-se como profetas, assinam seu vômito


como aiatolás ou monges, olham-nos com desprezo


como todos aqueles que comem deuses


e cagam regras dos céus em nome dos infernos.


São tenazes púrpuras suas mãos de ferro,


a cavar sepulturas para a gargalhada de Hades,


são grilhões de chumbo as palavras de ordem


que arrebentam os tímpanos dos bacantes


de suas orgias de destruição e morte.


Do inferno ao céu, a estrada permeia


o campo de vontades amarradas


a sacos de pancadas e vermes


e o tempo de fome e dor povoa


o pensamento de cada ser que por ela caminha.


O deus que habita a garganta rouca


dos homens de fé é o mesmo que ronda


o estrume de sangue na trilha da humanidade.


Construíram catedrais de ossos e tumbas


de ódio, para acolher a gargalhada dos deuses


que mentem e matam com a mesma cara


de cavalo doido perdido no pasto.


Matemo-los todos, matemos, matemos


os deuses dentro de nós e deixemos


que flua o sangue de homens e mulheres


mais puro que o ar da montanha pelas veias


livres de estúpidas palavras de ordem.


Céus e infernos se unam na fossa profunda


cheia de rancor e merda, para que ali se afoguem


satanás e gabriel, santos e pecadores, papas


e aiatolás, pastores e pais de santo, todos,


todos unidos pela língua de fogo de meu ódio.


Será, enfim, o dia do juízo final


não do homem a ser julgado


mas de todos os deuses enfim condenados


para sempre à eternidade do esquecimento.


s/d - 2015


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