(Zdzisław Beksiński)
Inventaram os homens o inferno
para dele trazerem os demônios da intolerância.
Vestidos em togas negras, com capuzes
de gelo, os novos avatares do ódio
chamam-se pastores, denominam-se papas,
descrevem-se como profetas, assinam seu vômito
como aiatolás ou monges, olham-nos com desprezo
como todos aqueles que comem deuses
e cagam regras dos céus em nome dos infernos.
São tenazes púrpuras suas mãos de ferro,
a cavar sepulturas para a gargalhada de Hades,
são grilhões de chumbo as palavras de ordem
que arrebentam os tímpanos dos bacantes
de suas orgias de destruição e morte.
Do inferno ao céu, a estrada permeia
o campo de vontades amarradas
a sacos de pancadas e vermes
e o tempo de fome e dor povoa
o pensamento de cada ser que por ela caminha.
O deus que habita a garganta rouca
dos homens de fé é o mesmo que ronda
o estrume de sangue na trilha da humanidade.
Construíram catedrais de ossos e tumbas
de ódio, para acolher a gargalhada dos deuses
que mentem e matam com a mesma cara
de cavalo doido perdido no pasto.
Matemo-los todos, matemos, matemos
os deuses dentro de nós e deixemos
que flua o sangue de homens e mulheres
mais puro que o ar da montanha pelas veias
livres de estúpidas palavras de ordem.
Céus e infernos se unam na fossa profunda
cheia de rancor e merda, para que ali se afoguem
satanás e gabriel, santos e pecadores, papas
e aiatolás, pastores e pais de santo, todos,
todos unidos pela língua de fogo de meu ódio.
Será, enfim, o dia do juízo final
não do homem a ser julgado
mas de todos os deuses enfim condenados
para sempre à eternidade do esquecimento.
s/d - 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário