9 de jan. de 2016

poeira do tempo



(Salvador Dalí)




nada é o que parece
nem as certezas são assim
absolutas
nós humanos só vemos
o que nossos sentidos
filtram ao nosso cérebro
e temos um cérebro
esperto como o diabo
que vive mentindo para nós

nada parece mais verdade
do que a verdade que não vemos
nem por isso a vida é sonho
nem por isso a vida é ilusão

se metemos pelas mãos
os nosso pés
somos sempre os primeiros
a colher da vida o real
não aquele que realmente há
mas aquele que percebemos

e isso basta
isso basta para que vivamos

o animal que habita em nós
adapta-se ao olho que vê
ao cheiro que sente
e ao duro chão em que caímos
e se ouvimos o nosso grito
basta que pensemos que seja
realmente o nosso grito

comamos o pêssego
ou chupemos a jabuticaba
gozemos o orgasmo
ou soframos o gelo do tempo
ou a brasa do deserto
somos o que diz a cada dia
cada gota de suor e vida
que passamos sobre a terra

parece que tudo é nada
e nada parece o que é
assim a vida - assim
mestra a vida no engodo
mestres nós os humanos
no sermos enganados
precários seres a rolar
na poeira do tempo
e na poeira do tempo
sempre a viver e sobreviver


17.9.2015

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