o som da Singer ressoava sobre o assoalho
de tábuas podres da velha casa
abafando o grito dos grilos
e o compassado canto do pintassilgo
das rodas engrenadas da velha Singer
mágicos uniformes surgiam para me vestir
e cadernos e lápis para o colégio dos padres
o pontilhado da agulha ligeira da velha Singer
garantia no prato do almoço o bife solitário
a enfeitar o meu arroz com feijão
as linhas que a agulha ligava nos tecidos
que iam vestir corpos tão estranhos
também costuravam meu encanto
no vetusto cine municipal onde
a cada domingo o mocinho caía
nas armadilhas do bandido e
escapava da morte no último segundo
o som da Singer nas tábuas do assoalho podre
ainda ressoa
na minha cabeça não mais do que ecoa
no meu corpo
na minha mente
na minha lembrança
o sorriso de minha mãe
3.1.2016
Esse poema está lido na voz do autor neste endereço de podcast:
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