11 de jan. de 2016

o som da Singer








o som da Singer ressoava sobre o assoalho

de tábuas podres da velha casa

abafando o grito dos grilos

e o compassado canto do pintassilgo




das rodas engrenadas da velha Singer

mágicos uniformes surgiam para me vestir

e cadernos e lápis para o colégio dos padres




o pontilhado da agulha ligeira da velha Singer

garantia no prato do almoço o bife solitário

a enfeitar o meu arroz com feijão




as linhas que a agulha ligava nos tecidos

que iam vestir corpos tão estranhos

também costuravam meu encanto

no vetusto cine municipal onde

a cada domingo o mocinho caía

nas armadilhas do bandido e

escapava da morte no último segundo




o som da Singer nas tábuas do assoalho podre

ainda ressoa

na minha cabeça não mais do que ecoa

no meu corpo

na minha mente

na minha lembrança

o sorriso de minha mãe



3.1.2016



Esse poema está lido na voz do autor neste endereço de podcast:







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