17 de jan. de 2016

tramas e urdiduras





(Andre Muller)



narrar não é preciso
é apenas necessário

não basta à vida
a vida vivida
só há plenitude
na vida narrada

como as contas
do rosário
entre os dedos do cristão
são os dias lembrados
gotas que escorrem
da memória
pelos olhos
pelos poros
pelos pés
que marcam no chão
a oração inútil
ao deus tempo
culto inconsútil
do próprio existir

tecem-se poemas
entretecidos à vida
tramas e urdiduras
cavando feridas
na pele e nos ossos
os caminhos traçados
inúteis trançados
nus os sentidos
nuas as entranhas

inúteis poemas
de estranhas penas
pensadas e sonhadas
vividas e inventadas
queridas e odiadas
sempre narradas
imprecisamente
necessariamente
narradas


26.12.2015


Nenhum comentário:

Postar um comentário