6 de dez. de 2017

ócio de amor





(Georg Emanuel  Opitz)




num oco qualquer, em qualquer lugar do mundo,

te espero sonhando, porque te espero dormindo;

mesmo que venhas no passo da brisa,

enquanto não chegas, preparo meu corpo

com a calma e o talento das ondas mais mansas,

colhendo enredos de doces mistérios

que prometes em teus enleios, quando chegares;

não venhas tão rápido, amada, que o tempo

de anseio deve alongar-se como se alonga

pela praia a sombra do luar; e quero,

quero muito antecipar teus suspiros

no farfalhar das folhas do teu caminho;

quero poder ouvir-te ao longe, no horizonte

da floresta, porque, devagar, felinamente devagar

deves tocar as pedras do caminho, que não te firam

os pés os seixos, nem os espinhos;

no devaneio da brisa, no canto do pintassilgo,

preguiçosamente te espero e preguiçosamente

deves enredar-me quando chegares

para que o nosso amor - sem nenhum espanto -

seja serpente em doce elegância de abraçar,

e goze, lento como o lento marulho do mar,

lento, como lasciva foi a formação da terra,

e tenha, depois, o doce cansaço do canto

de carros de bois subindo a serra.



14.9.2012/4.11.2012/29.11.2012




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