i have given my name and my day-clothes up to the nurses
and my history to the anesthetist and my body to surgeons.
junto com meu nome, entreguei minhas roupas às enfermeiras
e minha história aos anestesistas e meu corpo aos cirurgiões.
sylvia plath – tulips
não há tulipas no meu quarto e é um inverno quente
faz sol lá fora a luz filtrada por grossos vidros e o som
nenhum que parece que a cidade é morta e silente
no leito corcoveado sinto-me um beduíno navegando
sobre as dunas da minha dor sem espaço para o olho
sem espaço para o gosto ou para qualquer pensamento
só o que o corpo faz e a mente acompanha é sobreviver
estar vivo como uma luz marinha ou uma água-viva
o tempo estagna na punção de um nervo e corre
pelas veias no movimento exato de tantas medicinas
esperar apenas esperar que as tripas retomem
seu lento triturar e que as águas transbordem
não em suores mas em chuvas cristalinas sem dor
a vida ali resumida a uma agulha ou ao pulsar
do ar condicionado e os únicos ruídos de passos
são de enfermeiras assépticas e cheias de curas
das papeletas burocráticas que enganam a morte
não penso não choro não sofro apenas respiro
o tempo escorre sob as cobertas em meneios
de cobra coral ungindo a fé de que há meios
e mezinhas suficientes para retorno do bem-estar
não há tulipas nem o tempo é de florescências
que não seja o drible do espasmo e da dor
há apenas o doente e seu esgar silencioso
e sou apenas eu e a capacidade de resistir
2.8.2019
(Ilustração: Frida Kahlo - roots)
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