ao longo das margens do rio da história
à direita e à esquerda só se veem os ganchos negros
de onde pendem os corpos de milhões de seres
lavados pelas chuvas e enrugados pelos ventos
olham com olhos vazios o lento escoar das águas
putrefazem-se em carnes podres adubando o solo
de onde nascem mais insanos e suas insanidades
o rio corre o rio não para e se todos os cadáveres
ao longo de seu percurso fossem lançados
em suas águas encachoeiradas ele viraria
enfim um lago pútrido de dor e de ódio inútil
mas o rio corre porque os corpos pendentes
pendentes continuam nos seus ganchos
à margem do rio da história cujas águas
correm para o infinito indiferentes
à dor e aos crimes que em suas margens
a humanidade comete em sua caminhada
do fundo poço para o poço mais profundo
que fica no fim do rio no fim do mundo
2.8.2019
(Ilustração: Goya - o sono da razão)
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