19 de ago. de 2019

rio da história





ao longo das margens do rio da história

à direita e à esquerda só se veem os ganchos negros

de onde pendem os corpos de milhões de seres

lavados pelas chuvas e enrugados pelos ventos

olham com olhos vazios o lento escoar das águas

putrefazem-se em carnes podres adubando o solo

de onde nascem mais insanos e suas insanidades

o rio corre o rio não para e se todos os cadáveres

ao longo de seu percurso fossem lançados

em suas águas encachoeiradas ele viraria

enfim um lago pútrido de dor e de ódio inútil

mas o rio corre porque os corpos pendentes

pendentes continuam nos seus ganchos

à margem do rio da história cujas águas

correm para o infinito indiferentes

à dor e aos crimes que em suas margens

a humanidade comete em sua caminhada

do fundo poço para o poço mais profundo

que fica no fim do rio no fim do mundo



2.8.2019

(Ilustração: Goya - o sono da razão)

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