21 de jan. de 2020

valsa triste




o rádio tocava uma valsa triste

- naquele tempo havia valsas

e todas as valsas eram tristes –

e eu suspendia um pouco a mão

do caderno e ouvia a valsa triste

tão triste como era a tristeza

que havia dentro de mim uma

tristeza do velho spleen dos

poetas que frequentavam minha

imaginação e fervilhavam poemas

tristes dentro de mim e eu queria

viver e morria em cada verso

voando ao som da valsa triste

que o rádio tocava na noite fria

de silêncios tristes e estrelas

distantes e eu amava o amor que

brotava daqueles versos tristes e

das estrelas distantes e eu amava

o amor que então brotava daqueles

versos tristes de poetas trágicos e

tentava fingir o que eles tão bem

fingiam escrevendo versos tortos

e tristes com rimas pobres e ricas

tristezas trazidas pelo vento suave

de noites quentes era assim o meu

aprendizado de amores que um dia

pisariam o meu peito e fariam do menino

que ouvia valsas tristes e lia poetas

ainda mais tristes e escrevia versos tortos

o eterno escritor de versos sem conserto





9.11.2019 

(Ilustração: Eric Lacombe - dark abstract portraits)

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