25 de jan. de 2020

viagem de volta





navega o meu barco pelo asfalto

em busca de um tempo num espaço

que o vento que varre o cérebro levou

para debaixo de tapetes tecidos de teias

de aranhas caranguejeiras e carrancas

de místicas viagens por rios imaginários

onde o setestrelo fulgia noites sem lua

e as ondas de vento ventavam cheiros de mar

montanhas verdes de esmeraldas cobiçadas

e ouros jamais em joias transformados

altares de jesus crestados em custódias

de hóstias outrora consagradas

aos prepúcios de pérolas em rosários

de purezas e porosidades carunchosas

nas tábuas da lei o verso consagrado

desonrado do meu barco que busca

pelas pedras do caminho de outrora

o porto seguro que mudou de lugar

e a navegação do vento inútil depara

com o muro das águas endurecidas

nos olhos vazados de vontades impolutas



essa viagem de volta só existe

no laivo de arrogância e desejo inefáveis



nunca voltarei 



18.1.2020

(Ilustração: vista antiga da cidade de Lavras/MG)

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