18 de jul. de 2020

adeuses







quando eu te pego [quando tu me pegas]

[e nada te nego] e nada me negas

- que não sejam nossos anseios apenas quimeras



[quando eu te cego] quando tu me cegas

e na cruz de uns braços te prego [e tu me pregas]

- que não alcancemos à flor da pele outras esferas



quando eu te esfrego [quando tu me esfregas]

nas fímbrias de nuvens em lentos movimentos

- que sejam extremos [e doces] os nossos tormentos



[quanto eu te gozo] quando tu me gozas

não há nos nossos gemidos poemas [nem prosas]

- que escutemos somente vulcânicos lamentos



quando te aperto em meus braços

[quando me apertas em teus braços]

que sejam de fogo todos os laços

[que sejam de neve todos os traços]

- que nos enxerguemos de olhos baços

- que esqueçamos todos os cansaços



quando enfim te provoco o torcer do ventre,

[quando enfim me provocas o estertor de estrelas]

que pelos teus mares de águas-vivas eu entre

[às tuas possessões possa eu sempre enaltecê-las]



quando ao fim te entregas o beco sem outro caminho,

[quando ao fim me entregas o abismo sem outro torvelinho]

fogem-se-me todas as barreiras pelo espaço ente ti e mim

[projetas em meus olhos teus tormentos] encontro em ti o meu fim

- somos aqueles aos quais a vida destinou apenas adeuses 





8.2.2020

(Ilustração: Max Ernst - la chute de l'ange - 1923

 

 

 

 

 

 


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