quando eu te pego [quando tu me pegas]
[e nada te nego] e nada me negas
- que não sejam nossos anseios apenas quimeras
[quando eu te cego] quando tu me cegas
e na cruz de uns braços te prego [e tu me pregas]
- que não alcancemos à flor da pele outras esferas
quando eu te esfrego [quando tu me esfregas]
nas fímbrias de nuvens em lentos movimentos
- que sejam extremos [e doces] os nossos tormentos
[quanto eu te gozo] quando tu me gozas
não há nos nossos gemidos poemas [nem prosas]
- que escutemos somente vulcânicos lamentos
quando te aperto em meus braços
[quando me apertas em teus braços]
que sejam de fogo todos os laços
[que sejam de neve todos os traços]
- que nos enxerguemos de olhos baços
- que esqueçamos todos os cansaços
quando enfim te provoco o torcer do ventre,
[quando enfim me provocas o estertor de estrelas]
que pelos teus mares de águas-vivas eu entre
[às tuas possessões possa eu sempre enaltecê-las]
quando ao fim te entregas o beco sem outro caminho,
[quando ao fim me entregas o abismo sem outro torvelinho]
fogem-se-me todas as barreiras pelo espaço ente ti e mim
[projetas em meus olhos teus tormentos] encontro em ti o meu fim
- somos aqueles aos quais a vida destinou apenas adeuses
8.2.2020
(Ilustração: Max Ernst - la chute de l'ange - 1923
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