2 de jul. de 2020

vagabunda






o pastor lá do púlpito da igreja lotada berrava

vagabunda

vagabunda

e para ela – a menina – ele olhava e estrebuchava

só porque ela era uma menina que dava

dava todo dia a bunda

para o filho do pastor que não sabia

das taras do filhinho bem comportado

que na igreja rezava e bendizia

aleluia meu deus aleluia seja deus sempre louvado

e comia no beco escuro

– um lugar seguro

– onde nem o capeta aparecia –

depois do culto e de todas as orações

ele com gosto comia

da vagabunda

a grande bunda

e toda a congregação da igreja lotada aplaudia

e repetia

vagabunda

vagabunda

deus seja louvado – aleluia senhor – deus eterno

vai sofrer para sempre no inferno

a moça nem ligava

de noite se esfregava

ao filho do pastor

porque era uma menina que dava

mas dava a bunda com amor

e não se arrependia de haver dado

porque – isso nem o pastor imaginava –

ela pensava e sinceramente por isso orava

que o pau do namorado

– por ser filho do pastor – era um pau

por deus abençoado

 

6.2.2020

(Ilustração: Toyen Pybrac)

 

 

 

 

 


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