o pastor lá do púlpito da igreja lotada berrava
vagabunda
vagabunda
e para ela – a menina – ele olhava e estrebuchava
só porque ela era uma menina que dava
dava todo dia a bunda
para o filho do pastor que não sabia
das taras do filhinho bem comportado
que na igreja rezava e bendizia
aleluia meu deus aleluia seja deus sempre louvado
e comia no beco escuro
– um lugar seguro
– onde nem o capeta aparecia –
depois do culto e de todas as orações
ele com gosto comia
da vagabunda
a grande bunda
e toda a congregação da igreja lotada aplaudia
e repetia
vagabunda
vagabunda
deus seja louvado – aleluia senhor – deus eterno
vai sofrer para sempre no inferno
a moça nem ligava
de noite se esfregava
ao filho do pastor
porque era uma menina que dava
mas dava a bunda com amor
e não se arrependia de haver dado
porque – isso nem o pastor imaginava –
ela pensava e sinceramente por isso orava
que o pau do namorado
– por ser filho do pastor – era um pau
por deus abençoado
6.2.2020
(Ilustração: Toyen Pybrac)
Nenhum comentário:
Postar um comentário