para Wagner Mourão Brasil
troquemos nossas mazelas
ou apenas da vida nossas querelas
diga-me você o que sente
e lhe direi o que sinto
talvez assim o mundo se oriente
e possamos juntos seguir em frente
o sol que nasce na manhã do seu apartamento
também nasce atrás do meu pé de amora
a vida caminha lá fora
e somos os dois desconhecidos cada qual no seu canto
a lamentar a quietude da vida
a rir talvez do espanto
de sermos amigos através apenas do que escrevemos
na tela do computador
nem sei se o que temos
possa um dia chamar amizade
sem que o toque de nossas mãos
troque entre os dedos essa passividade
de nos iludirmos só com o toque no teclado
sabemos que o tempo passa
tanto quanto passa o desejo travado
de um abraço apertado
uma cerveja na mesa do bar
um caminhar trôpego pela beira do mar
nem sei se seus olhos veem o que veem os meus
no silêncio desses meus dias ateus
a fumaça ao longe de um vapor a subir
o rio da vida em que não tivemos
nenhuma oportunidade
nada que se pudesse realmente chamar amizade
mas o preço do que nos demos como abrigo
em cada metro de distância medido
permite que ainda assim eu possa chamá-lo amigo
1.6.2020
(Ilustração: Sylvie Fernandez - amitié)
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