não quero mais rimar a lua
com tua pele nua
nem arrumar qualquer treta
com algum moralista
ao pensar em rimar boceta
com uma flor ou mulher
chamada violeta
e mesmo que não resista
em olhar para uma bela bunda
e sentir uma dor profunda
ah poeta – direi eu – vá se foder
e pare de se meter e meter
onde há sempre um cheiro de urubu
se quer mesmo soltar o verso
que comece olhando o próprio cu
e pare de rimar e escrever
pensando uma coisa e dizendo o inverso
solte logo a sua verve
deixe voar ao vento o seu gozo
se uma rima não lhe serve
não ponha a mão no fogo
escreva sempre o que lhe vier à telha
sem rima – sem métrica – sem sentido
e se alguém achar que sua poesia não espelha
o que o mundo de hoje anda querendo e pedindo
que vá todo mundo ser fodido
por toda essa porra que veio e ainda está vindo
e se sobrar algum gaiato metido a esperto
a reclamar dessa tua versalhada
diga como aquele idiota do roberto
- que tudo o mais vá para o inferno
com essa porra toda de rima
de decassílabos sáficos e heroicos
que tudo sim vá para o quinto dos infernos
ou para a puta que os tenha a todos parido
13.7.2020
(Ilustração: Aleah Chapin - EE.UU. – 1986)
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