lá evém o menino são paulo
vendendo cauim como se fosse droga
na ladeira porto geral
pegando uma piroga
e caindo no carnaval
lá evém o jovem são paulo
descendo a ladeira da memória
chutando a bunda da história
para enterrar o rio anhagabaú
e fincar no ibirapuera as penas do jacu
desentortar o tietê
e inventar a vinte e cinco de março
como a rua do fuzuê
lá evém o são paulo homenzarrão
do século vinte e um
soltando pum
como se fosse rojão
plantando vento na praça da sé
rodando baianas e havaianas
para sambar na ponta do pé
na porta do municipal
catando tijolo por tijolo
em cada feira de rolo
para erguer o palacete senhorial
não evém mais o velho são paulo
pensar feridas de guerras perdidas
espera apenas que seu povo
cante de dance de novo
e esqueça as velhas feridas
agora nos seus olhos brilha o fogo
de gentes do mundo todo
e quer esse velho são paulo de tantas línguas
beber no bar do ponto um gole de pinga
respirar na cantareira um ar mais puro
e olhar com seu olhar já baço
já cheio de desencanto e cansaço
olhar bem lá no fundo o olho do seu futuro
23.1.2021
(Ilustração: foto de 1954 - Vale do Anhagabaú -
comemoração do IV centenário dia 25 de janeiro)
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