25 de jan. de 2021

oswaldiana

 



lá evém o menino são paulo

vendendo cauim como se fosse droga

na ladeira porto geral

pegando uma piroga

e caindo no carnaval



lá evém o jovem são paulo

descendo a ladeira da memória

chutando a bunda da história

para enterrar o rio anhagabaú

e fincar no ibirapuera as penas do jacu

desentortar o tietê

e inventar a vinte e cinco de março

como a rua do fuzuê



lá evém o são paulo homenzarrão

do século vinte e um

soltando pum

como se fosse rojão

plantando vento na praça da sé

rodando baianas e havaianas

para sambar na ponta do pé

na porta do municipal

catando tijolo por tijolo

em cada feira de rolo

para erguer o palacete senhorial



não evém mais o velho são paulo

pensar feridas de guerras perdidas

espera apenas que seu povo

cante de dance de novo

e esqueça as velhas feridas



agora nos seus olhos brilha o fogo

de gentes do mundo todo

e quer esse velho são paulo de tantas línguas

beber no bar do ponto um gole de pinga

respirar na cantareira um ar mais puro

e olhar com seu olhar já baço

já cheio de desencanto e cansaço

olhar bem lá no fundo o olho do seu futuro



23.1.2021

(Ilustração: foto de 1954 - Vale do Anhagabaú - 
comemoração do IV centenário dia 25 de janeiro)



Nenhum comentário:

Postar um comentário