não há desespero em meus sonhos
apenas a placidez do irrealizável
meço-os – aos sonhos – pela quantidade de suor
que empapa meus lençóis pela noite adentro
nas longas sequências de viagens a cidades
que intui o meu cérebro em atividade
enquanto se contorce o meu corpo em calores
não há desespero quando ganho asas
e percorro a cidade acima dos seus telhados
ou quando visito aquela casa estranha
de arquiteturas diferentes sendo sempre a mesma
ou encontro-me desnudo entre a multidão
a caminhar a esmo sem que me toquem
empesto o ar do quarto com meus suores
e acordo de madrugada em busca de socorro
na solidão de pensamentos fugazes
de ambíguas existências que palpitam em mim
sentindo que há em meu peito uma angústia infinda
e apenas o silêncio – o silêncio dos gatos adormecidos –
responde ao meu desejo por mais solidão ainda
4.6.2020
(Ilustração: Catherine Chauloux)
Nenhum comentário:
Postar um comentário