17 de jan. de 2021

quando adormeço

 



não há desespero em meus sonhos

apenas a placidez do irrealizável



meço-os – aos sonhos – pela quantidade de suor

que empapa meus lençóis pela noite adentro

nas longas sequências de viagens a cidades

que intui o meu cérebro em atividade

enquanto se contorce o meu corpo em calores



não há desespero quando ganho asas

e percorro a cidade acima dos seus telhados

ou quando visito aquela casa estranha

de arquiteturas diferentes sendo sempre a mesma

ou encontro-me desnudo entre a multidão

a caminhar a esmo sem que me toquem



empesto o ar do quarto com meus suores

e acordo de madrugada em busca de socorro

na solidão de pensamentos fugazes

de ambíguas existências que palpitam em mim

sentindo que há em meu peito uma angústia infinda

e apenas o silêncio – o silêncio dos gatos adormecidos –

responde ao meu desejo por mais solidão ainda 





4.6.2020

(Ilustração: Catherine Chauloux)

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